I. O sonho
A noite pesava no quarto de Adaora.
Lá fora, os grilos cantavam e o vento agitava as folhas da velha mangueira. Mas por dentro, o sono de Adaora estava longe de ser tranquilo.
Em seu sonho, ela estava descalça em uma floresta brilhando com uma névoa prateada. O ar brilhava, cheio de sussurros sibilantes. Diante dela havia uma poça de água tão parada que parecia um espelho. Quando ela se inclinou sobre ele, seu reflexo olhou de volta – mas seus olhos estavam amarelos, semicerrados, frios.
Uma figura emergiu da névoa: sua mãe. Vestido de branco, descalço, rosto pálido como osso.

“Adaora,” sua mãe disse suavemente, “você deve controlá-lo. O sangue do Eke Nneka corre forte em você. Uma vez despertado, não pode ser desfeito.”
Adaora balançou a cabeça. “Mamãe, eu não quero isso! Quero ser normal!”
A voz da mulher ecoou como o vento através das árvores ocas. “Normal não é o seu destino. A serpente escolhe seu recipiente. Você nasceu sob a marca. A bobina é sua para carregar.”
O chão começou a tremer. Das sombras, cobras douradas e prateadas deslizaram em sua direção, cercando suas pernas, subindo mais alto. Suas escamas brilhavam como o luar.
“Não! Deixe-me em paz!” Adaora gritou.
Ela acordou de repente, ofegante. Seu lençol estava encharcado de suor, seu coração batia forte. Ela apertou os braços – e congelou.
Finas linhas esverdeadas rastejavam levemente por sua pele, como veias de luz.
“Não… de novo não,” ela sussurrou, pressionando as palmas das mãos.
Ela começou a cantarolar a oração que sua avó lhe ensinara – uma melodia mais antiga que a linguagem.
Gradualmente, a luz diminuiu. As linhas desapareceram. A menina permaneceu tremendo, com medo do que estava se tornando.
II. A fofoca
Pela manhã, a escola estava movimentada.
“Você ouviu? Adaora desmaiou ontem à noite!”
“Não, ouvi dizer que ela está possuída!”
“Dizem que os olhos dela ficam verdes quando ela está com raiva!”
Os rumores se espalharam como um incêndio. Ninguém sabia quem os iniciou, mas o medo conseguia encontrar raízes onde a verdade era fraca.
Emeka também ouviu. A princípio, ele descartou. Mas quando ele entrou na aula e viu a cadeira vazia de Adaora, um desconforto frio tomou conta dele.
Durante o recreio, ele a encontrou caminhando em direção ao portão da escola, sozinha como sempre. Seu rosto estava pálido, seus movimentos tensos.
“Espere”, ele gritou.
Adaora parou, mas não se virou.
“Sinto muito”, ele disse calmamente. “Para ontem. Eu não deveria ter incomodado você.”
Ela suspirou. “Não é culpa sua, Emeka.”
“Então por que você afasta todo mundo? Do que você tem medo?”
Essa questão pairava entre eles. Ela se virou lentamente, os olhos brilhando com algo que ele não conseguia nomear: medo, tristeza ou aviso.
“Você não entenderia.”
“Então me obrigue”, disse ele, surpreendendo-se. “Deixe-me tentar.”
Por um momento, ela parecia prestes a chorar. Então ela sussurrou: “Você é gentil, Emeka. Mas a bondade não sobrevive perto de mim.”
Ela se afastou, deixando-o sem palavras.
III. A cicatriz
Naquela noite, Adaora voltou para casa mais cedo. A casa estava silenciosa; sua mãe passou uma semana fora, participando de um “ritual familiar” em sua aldeia ancestral. Apenas Adaora e sua avó, Mama Ngozi, permaneceram.
Na cozinha, Mama Ngozi mexia um pote de ervas, murmurando orações. Ela olhou para cima quando Adaora entrou.
“Você não comeu mais na escola”, disse a velha.
“Eu não estava com fome.”
Mama Ngozi estudou o rosto da neta. “Os sonhos estão ficando mais fortes, não estão?”

Adaora hesitou. “Sim, mamãe. Ontem à noite eu os vi… de novo.”
A expressão da velha endureceu. “Os espíritos estão inquietos. Você está se aproximando do seu aniversário de dezessete anos. É quando a serpente interior desperta completamente.”
“Eu não quero isso!” Adaora retrucou. “Eu odeio isso! Por que não posso simplesmente viver como todo mundo?”
“Porque você não é todo mundo”, disse a avó com firmeza. “Você é Eke Ada, filha da linhagem da Rainha Serpente. O presente corre em seu sangue. Ele pode curar — ou destruir.”
“Eu não pedi nenhum presente!” A voz de Adaora quebrou. “Eu só quero ser livre.”
Mama Ngozi tocou suavemente sua bochecha. “Liberdade sem verdade é uma maldição. Um dia, o garoto que você afasta verá sua verdade. E então sua escolha terá importância.”
Adaora franziu a testa. “Que garoto?”
A velha sorriu tristemente. “Aquele cujos olhos suavizam quando olha para você. Aquele que irá salvá-lo ou será destruído por você.”
Adaora recuou, assustado. “Emeka…”
A panela no fogão sibilou de repente, derramando vapor verde. O cheiro encheu o ar – forte, terroso, antigo. A velha voltou-se para ele.
“Beba isto esta noite”, disse ela. “Isso acalmará a serpente. Mas lembre-se: suprimi-la por muito tempo só a tornará mais forte.”
Adaora assentiu, embora suas mãos tremessem quando ela pegou a xícara.
4. A Tempestade
A semana seguinte trouxe fortes chuvas. O trovão rolou pelos telhados e os relâmpagos dividiram o céu como veias de fogo.
Os estudantes amontoavam-se sob abrigos, rindo e reclamando do tempo.
Mas Adaora estava desaparecida novamente.
Emeka não conseguia ficar parada. Algo lá no fundo lhe dizia que ela estava em perigo. Quando o último sinal tocou, ele pegou seu guarda-chuva e correu para o armazém.
rm.
A casa dela ficava perto da periferia da cidade, cercada por bananeiras e silêncio. Ele chegou ao portão, com água pingando de suas roupas.
“Olá?” ele ligou. Nenhuma resposta. A porta da frente estava entreaberta.
Lá dentro, as velas tremeluziam fracamente. O ar estava denso com o cheiro de ervas e fumaça. Então ele ouviu — um assobio baixo e rítmico. Não de qualquer boca humana.
“Olá?” ele sussurrou novamente, entrando.
Ele seguiu o som até o quarto de Adaora – e congelou.
V. A Transformação
Adaora se ajoelhou no chão, tremendo. Suas mãos agarraram seus próprios braços enquanto a luz verde pulsava sob sua pele. Seus olhos brilhavam levemente amarelos. Cobras – pequenas e espectrais feitas de névoa – deslizavam pelo chão ao redor dela, suas línguas agitando o ar.
Emeka ofegou. “Adaora!”
Ela olhou para cima, aterrorizada. “Vá embora! Por favor!”
“O que está acontecendo com você?”
“Não consigo parar”, ela gritou. “Está acordando!”
Sua voz se transformou em um silvo gutural. Seu corpo convulsionou; escamas ondularam brevemente ao longo de seu pescoço. Suas pupilas se estreitaram em fendas.
O instinto de Emeka gritou para correr. Mas ele não o fez. Em vez disso, ele se aproximou.
“Adaora, me escute. Respire.”
“Não me toque!” ela soluçou. “Eu vou te machucar!”
Ele estendeu a mão de qualquer maneira e agarrou a mão dela.
No momento em que a pele deles se tocou, um choque de energia percorreu a sala. As chamas das velas se curvaram para dentro, as cobras sibilaram mais alto — e então, lentamente, a luz diminuiu.
A respiração de Adaora se estabilizou. O brilho desapareceu de seus olhos. Ela caiu em seus braços, fraca, mas viva.
Durante muito tempo, nenhum dos dois falou. A chuva batia nas janelas como tambores do destino.
Quando ela finalmente sussurrou, sua voz tremeu. “Agora você sabe.”
Emeka segurou-a suavemente. “Eu não me importo com o que você é. Você ainda é Adaora.”
Ela balançou a cabeça. “Você não entende. Estou amaldiçoado.”
“Então deixe-me compartilhar”, ele disse simplesmente.
As lágrimas dela encharcaram a camisa dele. Pela primeira vez em anos, Adaora deixou-se abraçar.
VI. A lenda revelada
Quando a tempestade passou, Mama Ngozi regressou. Ela os encontrou sentados em silêncio perto da lareira.
O olhar da velha passou por eles – Adaora pálida, mas calma, Emeka ainda segurando sua mão. Ela suspirou profundamente.
“Então começa.”
Emeka ficou sem jeito. “Mãe… eu não queria me intrometer.”
Mama Ngozi acenou com a mão. “Não há necessidade de desculpas. Se a serpente permitiu que você a tocasse e vivesse, então talvez a profecia fosse verdadeira.”
“Profecia?” ele repetiu.
A velha afundou-se numa cadeira. “Nossa linhagem remonta a Eke Nneka, a Deusa Serpente que guardava as fontes sagradas. Há muito tempo, ela se apaixonou por um homem mortal, um caçador que salvou sua vida. Mas a união deles foi proibida. Quando os deuses descobriram, eles a amaldiçoaram: toda filha nascida de sua linhagem carregaria dentro de si o espírito da serpente, para sempre dividido entre mulher e cobra. Somente quando ela encontrasse um homem puro de coração o espírito poderia ser domesticado.”
O coração de Emeka bateu forte. “E você acha… eu sou aquele homem?”
“Acho que não”, disse Mama Ngozi calmamente. “A serpente escolheu você.”
Os olhos de Adaora se arregalaram. “Não! Não vou arrastá-lo para isso!”
“Você já fez isso,” sua avó disse gentilmente. “O destino não pede permissão.”
VII. O teste
Nos dias seguintes, Adaora e Emeka ficaram mais próximos. Ela lhe ensinou os antigos cânticos que sua avó usava para acalmar a serpente; ele a ensinou a rir, lembrando-lhe como era ser humano.
Mas o perigo agitou-se. Na aldeia vizinha, espalhou-se a notícia de luzes estranhas vistas perto da casa de Adaora. Velhas superstições despertaram. Eles sussurraram o nome dela com medo – a garota cobra, a amaldiçoada.
Uma noite, um grupo de homens reuniu-se do lado de fora do complexo com tochas.
“Ela não é humana”, disse um deles. “Devemos limpar a cidade.”
Emeka os ouviu primeiro. Ele correu para dentro. “Adaora, temos que ir. Agora.”
Antes que pudessem se mover, uma pedra quebrou a janela. Alguém gritou: “Bruxa!”
A avó de Adaora deu um passo à frente, segurando sua bengala. “Você não vai machucar meu filho.”
Um homem ergueu sua tocha. “Vimos os olhos dela brilharem! Ela é um demônio!”
Emeka ficou ao lado da velha. “Ela não é! Ela é apenas diferente!”
“Afaste-se, garoto!”
Então uma tocha voou e pousou perto da porta. O fogo atingiu as cortinas instantaneamente.
A fumaça encheu a sala.
Adaora apertou a cabeça, ofegante. A serpente dentro dela rugiu.
“Emeka – saia!” ela chorou.
“Eu não vou deixar você!”
Seu corpo tremia; escamas brilharam em seus braços. Sua voz caiu para um silvo. “Se eu perder o controle, matarei todos eles!”
Ele segurou o rosto dela entre as palmas das mãos. “Então concentre-se em mim.”
Por um instante, tudo se acalmou: o fogo, os gritos, o caos.
Os olhos dela encontraram os dele. O poder da serpente aumentou, mas sua presença a ancorou.
Então ela fez algo que nunca tinha feito antes: deixou a serpente subir sem medo.
Uma explosão de luz verde varreu a casa. O fogo morreu instantaneamente, sugado pelo brilho. Lá fora, os aldeões caíram de joelhos, com as tochas apagadas.
Quando a luz desapareceu, Adaora permaneceu ilesa, seus olhos brilhando como ouro, a aura de uma rainha a cercando.
Ela saiu. Os aldeões tremeram.
“Eu não sou sua inimiga”, disse ela. Sua voz estava calma, res
onante, antigo. “Esta maldição é meu fardo, não seu. Mas se você prejudicar minha família novamente, a serpente se lembrará.”
Os homens largaram as tochas e fugiram noite adentro.
VIII. A escolha
Depois daquela noite, tudo mudou.
A cidade não zombava mais de Adaora. Alguns a evitavam; outros começaram a sussurrar orações quando ela faleceu, sem saber se ela era uma bênção ou um aviso.
Mas para Adaora, a paz era frágil. A cada lua cheia, a atração da serpente ficava mais forte. Ela temia que um dia nem a voz de Emeka fosse suficiente.
Uma noite, sentada perto da mangueira onde se conheceram, ela disse baixinho: “Você deveria ir embora antes que seja tarde demais”.
Emeka franziu a testa. “Eu não vou a lugar nenhum.”
“Eu vi algo em meus sonhos”, ela sussurrou. “A serpente disse que o amor tem um preço.”
“Então eu pago”, disse ele.
Lágrimas brilharam em seus olhos. “Você não entende. Se eu perder o controle, a serpente precisará de uma vida para equilibrar a minha.”
Ele estendeu a mão e pegou a mão dela. “Então deixe levar o meu.”
“Emeka—”
— Não. Estou falando sério. Você me salvou uma vez, de ser comum. Se morrer por você é o preço, pagarei mil vezes.
Adaora enterrou o rosto em seu peito, soluçando. A serpente dentro dela se mexeu, mas desta vez não sibilou. Ele ronronou.
IX. O Despertar
No aniversário de dezessete anos de Adaora, a lua nasceu vermelha como sangue.
A velha juntou ervas, cantando baixinho. “Esta noite decide seu destino.”
Adaora estava deitada em uma esteira, tremendo enquanto a luz ondulava sob sua pele. O ar brilhava com poder. As cobras apareceram novamente – fantasmas de luz e sombra.
Emeka se ajoelhou ao lado dela, segurando sua mão. “Estou aqui.”
Ela gritou. Seu corpo arqueou. Escamas floresceram ao longo de seus braços e pescoço. Seu cabelo brilhava como ouro derretido.
“Não lute contra isso”, gritou Mama Ngozi. “Aceite!”
Os olhos de Adaora se abriram, brilhando ferozmente. “Não posso!”
Emeka se aproximou. “Você pode. Você é mais forte que essa maldição.”
Então ele fez o que ninguém ousou: beijou-a.

Por um momento, tudo explodiu: luz, som, energia. As cobras desapareceram. O ar ficou parado.
Quando o brilho desapareceu, Adaora ficou imóvel. As balanças desapareceram. Sua pele estava clara. Seus olhos – humanos novamente.
Ela sentou-se lentamente, ofegante. “Está… quieto. A serpente desapareceu.”
Mama Ngozi sorriu, com lágrimas escorrendo pelas suas bochechas enrugadas. “Não, criança. Não foi embora – em paz.”
Emeka a ajudou a se levantar. “O que aconteceu?”
“A serpente aceitou o seu amor”, disse a velha. “A maldição foi quebrada.”
X. O Novo Amanhecer
Os dias se transformaram em semanas. A cidade se curou. O medo desapareceu.
Adaora caminhava livremente, rindo, estudando, vivendo.
As pessoas sussurraram de novo — mas agora com admiração. Alguns a chamavam de Ada Eke, a garota abençoada pela serpente. Outros simplesmente a chamavam de Adaora e sorriam.
Uma tarde, sentada debaixo da mangueira, ela se voltou para Emeka. “Sabe, você nunca desistiu de mim.”
Ele sorriu. “Eu não poderia. Cobras ou não, você ainda é a garota mais linda que eu já vi.”
Ela riu, um som como a luz do sol rompendo as nuvens.
“Talvez você devesse ter cuidado”, ela brincou. “Ainda tenho alguma serpente em mim.”
Ele piscou. “Bom. Eu gosto do perigo.”
Eles se sentaram juntos, observando o céu ficar dourado, o ar cheio do zumbido de novos começos.
Epílogo – O Sussurro das Balanças
Naquela noite, enquanto Adaora estava perto da janela, uma brisa roçou seu rosto. A lua brilhou branca novamente. Ela olhou para seu reflexo – e por um momento fugaz, viu olhos dourados olhando de volta.
Então uma voz gentil ecoou em sua mente.
Você nunca está sozinho, criança. Somos um, não maldição, mas equilíbrio.
Adaora sorriu suavemente.
“Obrigada,” ela sussurrou. “Por me deixar viver.”
Atrás dela, Emeka se mexeu durante o sono, murmurando seu nome.
E à medida que a noite os abraçava, o som fraco do silvo de uma cobra flutuou no vento – não uma ameaça, mas uma canção de ninar.
A serpente não a caçava mais.
Isso a protegeu.
E em algum lugar nas sombras, a velha lenda de Eke Nneka começou de novo—
desta vez, não como uma maldição, mas como uma história de amor que domesticou até os deuses mais antigos.
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